sábado, 18 de março de 2006

Hablando com nuestros hermanos

Quinta-feira, 9 de Março
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Estes espanhóis que acabo de conhecer, é impossível não gostar deles. Mesmo antes de sermos apresentados adivinham já que sou eu. Cumprimentam-me muito calorosamente.
Durante o almoço, fico sentado junto a L. que revela admiração pela quantidade enorme de prédios que há em Lisboa pintados de côr de rosa. Confesso que nunca tinha reparado nisso.
Centramos a conversa nas pequenas diferenças que há entre os dois países e coisas do género para impressionar.
Digo a L. que também nós, portugueses, somos espanhóis e que o uso do nome Espanha por parte dos castelhanos é abusivo.
L. parece não ter achado piada. Fico com a sensação que talvez não devesse ter dito isto, digamos que não terá sido uma tirada particularmente diplomática da minha parte. Então resolvo emendar-me e revelo a L. que Cristóbal Colón afinal, era um espião português. Reparem que dizer uma merda destas em "portunhol" é complicado. Deviam ter-me visto.
L. responde-me que em Lisboa vê-se mais mulheres com o cabelo ondulado do que em Espanha, onde actualmente todas usam penteados lisos. Desconfio que L. não entendeu porra do que lhe disse acerca do Colombo ou então desconversou de propósito e estará a pensar "porra, ca granda bimbo este português me saiu. Quando é que volto para a civilização ?" (isto em castelhano, claro).
Na outra ponta da mesa, falam de futebol. Como se pudesse haver comparação entre Benfica e Barcelona.
Animados pela recente vitória sobre o Liverpool, os benfiquistas presentes naquele sector iniciam um massacre verbal acerca da superioridade futebolística do Glorioso e "bocas" ao Barça.
B. o espanhol alvo da conversa, responde com a revelação de que não é simpatizante do Barcelona. Um sentimento de remate ao poste (ou mesmo para a bancada) instala-se subitamente entre nós.
L. reforça, afirmando que o futebol não lhe interessa minimamente. E de touros ? Pergunto. Também não. Por precaução, resolvo calar-me. Antes que me entusiasme e desate a falar de toiros e toureiros, dos grandes mestres como Carlos Arruza ou mesmo Armando Soares.
Finalmente é servida a piece de resistance. Sei que será bacalhau, mas o que vejo no prato não se parece com o fiel amigo. Que merda será esta ? Vou mexendo com o garfo naquilo e confesso que mais me parece pescada do que bacalhau. Os espanhóis parecem gostar. Enfim, ao menos isso.
Sem prazer lá vou comendo. Comida de betinhos é o que esta merda deve ser, penso para os meus botões. No fundo fico com pena de quem possa gostar destas paneleirices de comida fina e não sabe o quanto melhor sabe a comida das tascas. Comida portuguesa a sério.
No final, o rapaz ao levantar o meu prato pergunta-me se gostei. Pelo meu ar já percebeu que não. Devolve-me um sorriso cúmplice quando lhe respondo baixinho: eu, é mais entremeadas !
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P.S. Não tenho a mínima dúvida de que todo o espanhol que venha a Portugal em trabalho, sai daqui impressionado com a nossa capacidade empresarial, impressionado com a nossa instintiva facilidade em bem falar castelhano, impressionado com as nossas maneiras e modos finos, impressionado com os nossos taxis mercedes, impressionado como fomos capazes de permanecer independentes do resto das outras espanhas tanto tempo. Ou talvez não.